Diretor do Domingão recorda programa após morte de Silvio Santos: "Uma das coisas mais difíceis que fiz"
Profissional ainda revela estratégias, revisita os tempos de diretor artístico da Record, Band e quando dirigiu nomes como Hebe e do próprio Homem do Baú

Publicado em 10/06/2025 às 00:20,
atualizado em 10/06/2025 às 12:39
Diretor artístico do Domingão com Huck desde seu início - a atração está às vésperas de completar quatro anos -, Hélio Vargas tem uma longínqua relação com o titular do programa. Somando o tempo do Caldeirão, totaliza mais de uma década. Juntos, tiveram o desafio de montar um programa para homenagear Silvio Santos (1930-2024) em agosto do ano ado em aproximadamente 24 horas. "Foi uma das coisas mais difíceis que eu já fiz ao vivo", ite.
A revelação foi feita em uma longa entrevista ao NaTelinha publicada no YouTube (vídeo ao fim da matéria) e que também aparece aqui em formato de texto. Hélio Vargas é o sexto convidado de uma série de 20 entrevistas com personalidades que fizeram ou fazem a história da nossa TV neste mês que marca as duas décadas do site.
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Dono de uma extensa carreira em programas de auditório, o diretor já esteve por trás de atrações do próprio Homem do Baú e também de Hebe Camargo (1929-2012). Ele relata que na época que dirigia a Rainha da Televisão, tinha o cuidado de deixar o penúltimo e último bloco muito bem desenhados. "Normalmente o programa estourava [de tempo] e era uma coisa complicada", diz.
Vargas também teve agens exitosas pela Record e Band. No canal do bispo Edir Macedo, viu - e atuou - de perto na fase que ia "rumo à liderança". Pela emissora do Morumbi, abriu para produções independentes. Com isso, atrações importantes como o CQC, O Mundo Segundo os Brasileiros e É Tudo Improviso marcaram época. Mas ele ressalta uma em especial que teve o comando de Marcelo Rezende (1951-2017). "Era bem doido, mas eu adorava", confessa sobre o Tribunal na TV.
Confira isso e muito mais a seguir:
NaTelinha - Como é que o Domingão ganhou uma personalidade tão rapidamente? Muita gente pensou que ele ia ficar sofrendo por muito tempo comparações com o Domingão que era do Fausto.
É uma obra sempre incompleta, a gente está sempre procurando o melhor ponto. Eu acho que essas comparações eram inevitáveis. É impossível você entrar em um horário de um programa como era o programa do Fausto, com 32 anos no ar... As pessoas criaram um hábito muito próximo dele ali.
Foi um trabalho muito difícil esse de não deixar essa construção que o Fausto deixou ali durante tanto tempo. E apresentar uma cara nova, um jeito novo de fazer esse programa nesse mesmo horário. Eu acho que é muito em função do Luciano, a característica dele de apresentar e de conduzir os conteúdos que a gente faz ali. Tem muito peso nisso. Ele sabe, o Luciano tem uma qualidade muito presente, muito forte, que é de saber exatamente onde ele pisa, do jeito que ele faz.
E a gente também foi moldando os conteúdos de acordo com o que a audiência gosta de ver ali naquele horário. Então, acho que é um trabalho realmente... Um time incrível que tem ali fazendo esse programa. E o Luciano imprimindo com a personalidade dele, com o jeito dele, com o jeito que ele gosta de fazer as coisas, foi dando essa cara nova no Domingão, né? Mas é difícil.
NaTelinha - É difícil, né? Mas hoje vocês já venceram essa "barreira"...
Acredito que sim, acredito que sim. Eu acho que o programa ganhou essa personalidade, são quase quatro anos já nesse horário, e algumas coisas a gente foi aprendendo como fazer, como lidar. Eu já tinha trabalhado com o Fausto nesse mesmo horário, quando eu vim para a Globo para colaborar ali no conteúdo e no jeito de fazer o programa.
Então, era um terreno que eu já tinha pisado ali.
NaTelinha - O Domingão do Faustão ficou muitos anos ali fazendo ao vivo. Quando vocês assumiram com o Huck, cogitou-se fazer 100% ao vivo como era na maior parte do tempo com o Fausto?
O jeito de fazer o programa e o tipo de programa que você faz é o que acaba ditando como você vai captar e como você vai transmitir esse programa. Se você tem um programa que precisa da característica do ao vivo, a gente faz ao vivo. Temos vários programas com o Luciano durante o ano ao vivo. Mas a gente optou pela gravação, a gente grava às quintas-feiras, exibe no domingo, o mais próximo da exibição possível. E quando o programa pede uma exibição ao vivo, a gente faz ao vivo. Eu acho que o Fausto também tinha essa característica de fazer essa coisa ao vivo, de estar lá no momento que o programa está sendo exibido.
Um bom tempo atrás também trabalhei com a Hebe. Ela também gostava muito de fazer o programa ao vivo, ela não gostava de gravar pela maneira como a rotina da gravação para ela não era legal a gente fazer ao vivo, mas quando a gente resolve fazer um programa ao vivo, o Luciano manda bem também. Não foi uma condição. A gente optou por fazer vários conteúdos diferentes, às vezes a gente não consegue fazer uma troca de cenário, uma produção. A gente faz muitos quadros diferentes ao longo do ano, então foi uma opção técnica artística, vamos dizer assim.
NaTelinha - A gente sabe que a concorrência não é mais como nos anos 90, nos anos 2000, com aquela guerra de domingo. Mas esse ano a Record tem uma novidade importante, que foi colocar os jogos do Campeonato Brasileiro em cima do Domingão. Até que ponto isso preocupou e mexeu com vocês de alguma maneira? Como é que foi para vocês esse recebimento de um novo concorrente de peso?
Eu não sei se em alguns momentos a preocupação é a palavra correta, mas assim, tem que ter um cuidado. Qualquer concorrência, pelo menos da minha parte, do meu time também, as pessoas que estão dirigindo a TV Globo, a gente sabe encarar a concorrência com seriedade. O futebol na Record, e ele mexe no ponto de vista assim de horário, né? A gente imaginou qual seria o cenário enfrentando uma transmissão esportiva ao vivo e o futebol, que é o esporte mais popular aqui no Brasil. É duro. Não é mole não. É uma competição difícil.
NaTelinha - Principalmente quando tem jogo do Corinthians, né?
A gente sabe que é difícil concorrer. Mas isso também acaba motivando a gente, é ruim para disputar audiência, é mais difícil, não é ruim, é mais difícil.
Mas, por outro lado, também faz a gente pensar mais, faz a gente trabalhar mais, pensar mais. É um outro tipo de concorrência, é um outro conteúdo que está ali do outro lado, então a gente precisa entender, fazer a lição de casa mais vezes, com mais apuro, com mais qualidade, para saber exatamente para quem a gente está falando na TV aberta, e que é o maior desafio nosso.
NaTelinha - Você ajuda a garimpar formatos para o Domingão? Como que acontece essa garimpagem de formatos? Vocês sempre têm muita rotatividade de quadros rolando ao longo do ano. E como é que funciona isso? Você vai muito para a feira de televisão? Qual teu trabalho nessa engrenagem?
A gente tem uma equipe, eu tenho um time grande de redação, que todo mundo assiste muita coisa. Aqui na TV Globo a gente tem uma área de aquisição de formatos e de conteúdos muito competente, que sempre alimenta a gente que está produzindo os programas. Tem um jogo aí em equipe muito forte, eu viajo sempre que possível para ver, às vezes até programa que não está sendo produzido ainda, que não está sendo exibido.
NaTelinha - Alguns formatos são traduzidos, outros não. O The Wall foi mantido em inglês, por exemplo. Como funciona a decisão de traduzir a atração ou não para o português? Até que ponto existe autonomia?
É uma boa pergunta essa. É um trabalho difícil adaptar o nome. Mas quando a gente adquire um formato de fora, a gente sempre conversa com o pessoal que está produzindo isso já em outros países e tal. Tem muita questão da sonoridade, tem muita questão da identificação do produto. Por exemplo, traduzir o The Wall seria a parede. Não tem nenhuma explicação científica pro negócio. 'A Parede fica um negócio muito difícil'.
Como o formato é praticamente autoexplicativo, então, e a gente achou que The Wall seria... Eu particularmente não gosto, eu gosto sempre de usar a língua portuguesa, que é a nossa língua aqui no Brasil. Eu às vezes, eu sou voto vencido, eu gosto de botar o nome e o título em português, eu gosto de falar em português, eu não gosto de usar muito o termo em inglês, ou seja lá o que for, mas, às vezes, a gente perde também, né?
NaTelinha - Nesse caso, você foi voto vencido?
É, mas eu acho que nesse caso eu votei também The Wall porque gostava mais do som.
NaTelinha - Mas então vocês têm autonomia, se quiser traduzir pode.
É, mas assim, eu não sei te dar uma explicação, pelo menos no time que eu lidero de criação e de redação, a gente não tem, a gente vai falando o nome e às vezes bate, 'eu gosto', 'eu gosto'... Tem uma democracia ali.
NaTelinha - E às vezes a gente acha que as pessoas não vão entender, né? Deve haver essa preocupação. 'Nossa acho que acho que isso em inglês ninguém vai entender', e às vezes acaba entendendo...
O que a gente usa muito nesse tipo, por exemplo, especificamente no The Wall, é assim, a gente depois coloca no texto do Luciano, ele fala sempre 'a parede'. A gente usa o nome, o título do programa original. E aí depois ele vai falando 'a parede'. Ele só fala a parede, ele não fala The Wall. A gente explica isso nas entrelinhas.
NaTelinha - Falando um pouco do início da sua carreira, você já dirigiu o Silvio Santos. Como foi dirigi-lo?
Eu trabalhei quase 19 anos lá no SBT e, assim, o programa do Silvio Santos, assim, o Silvio Santos... Ele tinha uma equipe bem definida. Eu dirigi poucos programas com o Silvio Santos. Eu fiz muitas coisas. E na época eu comecei muito jovem lá. Eu trabalhava em outras áreas, não como diretor também. Mas eu tinha um programa que eu dirigi um segmento. Era um porque tinha o programa Silvio Santos e dentro do programa Silvio Santos tinham vários quadros, né? Eu trabalhei nos últimos dois Miss Brasil que o Silvio fez. Tinha um programa chamado O Dia Que Você Nasceu que eu também dirigi algumas partes. Mas a equipe do Programa Silvio Santos não era muito grande, tinham poucos diretores.
Eu mesmo, eu diretamente trabalhei pouco dirigindo o Silvio Santos no programa. Tinha uns diretores, eu trabalhava como assistente de direção, como editor, enfim. Mas esses dois, o Miss Brasil e O Dia Que Você Nasceu, eu trabalhei direto com ele. É duro, era duro.
NaTelinha - É duro? Duro em que sentido? Do fato de ser implacável, muito exigente?
O Silvio é duro, é uma expressão talvez muito dura para usar. Mas assim, é porque eu era muito jovem e o Silvio sempre foi o Silvio Santos. Então, ele era muito exigente ali na gravação, às vezes ao vivo. A gente mais jovem tinha medo de errar, de fazer as coisas. O Silvio tinha uma característica muito importante que eu aprendi muito com ele. Ele tinha muito o programa na cabeça, o quadro que ele ia fazer.
Ele sempre estava muito bem preparado com aquilo. Ele improvisava, mas de um jeito muito ali dentro do próprio roteiro do programa, a improvisação dele era no que ele falava no texto, ele não lia TP, ele não segurava a ficha, ele fazia o próprio texto na hora em que ele estava apresentando o programa. Mas, em relação ao quadro, a dinâmica do quadro, começo, meio, quando é que entra, como é que faz, ele tinha aquilo muito na cabeça dele. Quando ele entrava ali para apresentar aquele quadro, aquele programa, ele tinha aquilo muito combinado. Então, quando ele combinava uma coisa com a gente e aquela coisa não dava certo, ele ficava bravo, entendeu? Se você fizesse a sua parte e o negócio desse certo, estava feliz, 'vamos embora, deu tudo certo'.
Agora, quando não dava muito certo, ele ficava chateado, porque ele tinha muita facilidade de interagir com a câmera, com a plateia, com o convidado, com o som. Era muito talento concentrado numa pessoa. Quando alguém errava alguma coisa, ele ficava chateado. Mas isso também ajuda a gente a aprender rápido.
NaTelinha - E, pelo visto, você aprendeu rápido. Imagino que deve ter sido uma faculdade muito intensa para você esse período, né? Apesar de ter tido poucos programas ali para tomar conta...
Como assistente de direção, como editor, eu trabalhei em vários. Cidade Contra Cidade, Namoro na TV, Qual é a Música, vários. Eu rodava muitas ilustrações de Cidade contra Cidade. Era um programa enorme. Aquilo sim era uma escola, porque era um quadro enorme. Tinha quatro horas de duração.
NaTelinha - E já tomou algum esporro do Silvio, Hélio?
Vários, vários.
NaTelinha - Vários?
Muitos, muitos, muitos.
NaTelinha - Algum próximo de estar demitido? Alguma vez demitiu e mudou de ideia?
No Miss Brasil, sim. As duas vezes que eu trabalhei com ele, fui demitido no ensaio.
NaTelinha - Você foi demitido duas vezes?
Foi, duas vezes. (risos)
NaTelinha - Por quê?
Ele pegava e a gente ensaiava de um jeito, ele chegava na hora, ele só ensaiava na sexta-feira à noite, a gente gravava no sábado, pelo menos esses dois que eu fiz com ele, a gente gravava no sábado. E aí ele mudava muita coisa no ensaio e a gente ia comentar alguma coisa com ele, ele não gostava. Ele falava: 'Tá, então sai aqui, deixa que eu faço'.
Aí depois ele mandava chamar de novo e 'segue ali'. Não vou dizer que sem estresse, mas uma coisa bem ok, assim, sem traumas.
NaTelinha - Você sobreviveu bem.
Sim, sim, super, super.
NaTelinha - Não te deixou sequelas?
Não, zero.
NaTelinha - E falando nele, Hélio, no ano ado o Silvio morreu no sábado, e vocês tiveram que fazer um Domingão ao vivo. Eu queria saber como é que foi preparar um programa daquele, produzir um programa daquele em aproximadamente 24 horas. Eu lembro de ter visto o Luciano anunciar o Domingão ao vivo pelo SBT. O programa provavelmente já estava gravado... Como foram os bastidores? Vocês devem ter lutado contra o tempo.
Foi. Acho que foi uma das coisas mais difíceis que eu já fiz ao vivo. E também era uma coisa assim que a situação praticamente exigiu que a gente fizesse aquilo, porque a gente estava fazendo um programa que o cara que praticamente deu origem a esse gênero de programa, criou ali naquele horário que ele consagrou, no domingo. Não dava para entrar com o programa frio, gravado, e fazer só uma homenagem, uma coisa. A gente pensou ali na hora, e a gente foi conversando, falando... A gente acabou se reunindo no sábado mesmo, na casa do Luciano, e a gente começou a conversar sobre o programa, o que poderia ser, e a gente chegou à conclusão de que era impossível. Assim... A gente ficaria devendo muito para as pessoas, para os fãs do Silvio, para os fãs do gênero, do auditório. Seria uma dívida que a gente ia viver com ela para o resto da vida profissional.
Então, a gente optou por arriscar e fazer um programa ao vivo com o que a gente conseguiu levantar de informação. Foi uma comoção nacional, um cara muito querido, muito popular, ali naquele dia, naquele horário que ele foi consagrado.
Então, montar o programa foi difícil. Fazer, não foi tanto.
NaTelinha - Qual foi a parte mais difícil que vocês executaram e quase talvez vocês não conseguiram executar?
Eu posso te contar assim... A nossa dúvida era que a gente tinha uma parte um conteúdo pré-gravado isolado que era um quadro que eu não lembro exatamente qual era. Tinha uns 40 minutos de programa. E tinha 130 minutos no ar e a gente tinha 40 minutos pré-gravados já prontos para fazer, que era um quadro completamente fora.
A maior dúvida nossa era se a gente ia fazer o programa inteiro ao vivo. Se a gente tinha conteúdo, se a gente tinha informação, se a gente tinha um bom conteúdo para exibir nos 130 minutos ou se a gente optava por ter uma parte pré-gravada e o resto ao vivo. Essa foi a grande, a maior dificuldade, a maior dúvida. Eu posso te falar que a gente foi para o domingo de manhã, eram muitas ilustrações, muitos VTs, muito depoimento para gravar, e aí a gente começou a fazer conta, conta, conta, e a gente decidiu duas horas antes do programa ir para o ar que o programa seria todo ao vivo, com o que a gente tinha, e a gente descartou o quadro pré-gravado. E falamos não: 'Vamos fazer esse programa inteiro ao vivo'.
Mas a gente realmente bateu esse pênalti aí duas horas antes do programa.
NaTelinha - Foi aos 48 do segundo tempo mesmo, no apagar das luzes...
Foi, foi, foi. Essa foi a maior dificuldade, assim, vamos dizer.
NaTelinha - E esse quadro de 40 minutos, provavelmente na semana seguinte ele foi aproveitado, vocês não jogaram material fora, né?
Não, não foi jogado fora não, porque era um quadro com sequência. Se não me engano, era um quadro com criança, eu acho que era o Pequeno Gênios. Ele tinha começado, tem sete episódios, é um time contra outro, aí quem ganha fica e tal. Ele foi utilizado, mas a dúvida na hora era colocar aquele conteúdo que não tinha. Junto com quase uma edição com jornalismo, com informação, não combinava.
Então, a gente optou por não exibir esse quadro e fazer o programa inteiro ao vivo.
NaTelinha - E aquele Melhores do Ano em rede com o SBT? Quando aquilo começou a ser costurado? Quem teve a ideia de exibir simultâneo?
Acho que foi a Daniela [Beyruti]. Eu estava negociando a participação da Patrícia com o Leon, que é o diretor de produção lá, e aí, numa das últimas ligações lá, o Leon me falou assim: 'Olha, a Daniela falou que ok, autoriza a participação da Patrícia, mas a gente gostaria de, na hora, que como ela tem o programa no mesmo horário, ela gostaria de exibir no SBT na hora que ela estivesse entrando no ar'.
Eu levei isso aí, conversei com o Luciano, a gente levou para o Amauri [Soares] e ele autorizou imediatamente. Mas foi um pedido do SBT.
NaTelinha - Além do Silvio, você também já dirigiu a Hebe. Você estava falando que que a Hebe também não gostava de fazer gravado, que ela tinha muita restrição com gravado, que ela preferia ao vivo, provavelmente você deve ter assistido o documentário dela no +SBT. Como era Hebe por trás das cortinas? Na hora de pensar o programa, o que ela levaria ao ar...
Rapaz, vou confessar aqui um crime: eu não vi ainda esse documentário lá na +SBT, mas eu vou ver, está marcado. Estou com uma dívida aí, eu não vi. Eu até gravei lá um depoimento, mas eu não vi o documentário. A Hebe tinha uma característica, quando ela foi para o SBT... Uma das pedidas dela foi que o programa fosse ao vivo, ela estava muito em fase de transição. Ela tinha deixado de fazer só entretenimento, ela tava muito plugada na opinião. Era uma outra Hebe. Esse período que peguei ela de 1986 a 1992, se não me engano, foi uma transição muito importante na vida dela.
Ela saiu da Band já com umas questões com a direção lá, que ela queria ter mais opinião no programa. Ela queria se posicionar em relação aos assuntos que eu estava fazendo. E ela pediu isso para o Silvio. Na época, eu estava lá na reunião, depois que ela foi contratada, o diretor, o superintendente era o Luciano Callegari. Foi ele que me colocou lá para dirigir o programa. E aí a gente fez uma reunião, e aí eu lembro exatamente da frase do Silvio, ele falou assim: 'Olha, pode fazer o que você quiser no seu programa, não tem censura aqui, você pode fazer o programa do jeito que você achar bom'. A frase foi mais ou menos assim, o conceito era esse.
'Você pode fazer o que você quiser, contanto que você se sinta bem assistindo ele sentar com a sua família em casa'. Essa foi a orientação do Silvio. O Silvio estava com o Luciano, estava a Hebe, acho que estava o sobrinho dela, se não me engano. Essa foi a frase que eu lembrei lá, que eu lembro que eu ouvi do próprio Silvio falando para ela.
NaTelinha - E a Hebe por fazer tanto ao vivo, ela já causou alguns problemas? E falou algumas coisas que desagradaram certas pessoas?
Não, nesses seis, quase sete anos que eu fiquei com ela lá, a gente não teve muito problema.
Eu nunca tive problema com ela, assim, de falar. Ela sempre tinha a posição dela muito definida. Acontece assim, quando eu era um diretor muito jovem, assim, em 86, tinha 27 anos. A Hebe já era a Hebe, né? Ela já era uma estrela do tamanho dela, né? Então, ela tinha muita personalidade, ela era muito assertiva no que ela queria ou não queria fazer. Era uma pessoa fácil de trabalhar.
Como o programa era ao vivo, a gente tinha restrição de horário. A gente entrava no horário e tinha que sair no horário. E, assim, era muito difícil controlar o horário, né? Então, eu tinha que deixar o penúltimo bloco e o último bloco do programa muito bem desenhado. Porque se não, se deixasse alguma coisa para o último bloco, normalmente o programa estourava e era uma coisa complicada.
NaTelinha - Essa questão do horário, a Hebe reclamava muito de mudança, de o Silvio querer mudar o horário do programa dela... O conteúdo era livre, mas o horário, não sei se naquele tempo o Silvio mudava tanto, mas mais na fase final dela no SBT, o Silvio ou a mudar um pouco mais, né?
Nesse período que eu fiquei com ela mudou muito pouco, aí teve um um período que o Silvio, mas aí pra frente, assim, uns cinco anos depois que a Hebe já tava lá, mas os primeiros quatro, cinco anos a gente não teve mudança nenhuma. A gente entrava 21h, 21h30, depois da novela, quando terminava a novela na Globo e ia até 23h30, 23h45, estourando um pouco até meia-noite. Mas não mudou nem de dia, nem de horário.
Na época, Silvio mexeu um pouco na programação e aí ele colocou o programa em dois dias, segunda e terça. Aí a Hebe ficou bem chateada, porque eram dois programas de uma hora. Dividiu o programa em dois programas de uma hora, uma hora e pouco. Mas não deu certo, não. Ficou pouco tempo e depois voltou para um dia só.
NaTelinha - E ela tinha liberdade de estourar o horário? Você falou que ela ia estourando até meia-noite. Tinha horário?
Não, não, não. É, porque tinha horário, o estúdio era ao vivo, né? Então tinha horário do pessoal, não podia ar da meia-noite, não.
NaTelinha - Ah, então o horário máximo era meia-noite. (risos)
É, tinha horário da equipe, que entrava até a hora, pra ensaio, aí tinha uma coisa. Mas não é uma limitação, isso aí é uma organização, né?
NaTelinha - Se dependesse da Hebe, às vezes, por ela ia indo, né?
Não, mas várias vezes estouramos a meia-noite.
NaTelinha - Várias vezes?
Uma delas, muito, até o próprio Silvio pediu, que foi na noite que o Serginho Groisman foi. O programa tava dando muita audiência, o próprio Silvio ligou lá na coordenação e falou: 'Pô, estica o programa, que tá muito boa a audiência'. Ele mesmo pediu pra estourar lá, aí uma semana depois o Silvio contratou ele.
NaTelinha - E dizem que o Silvio dormia às 22h...
Acho que nesse dia ele foi dormir 00h45 porque estava dando muita audiência, a gente estava ganhando muito da Globo. Aí ele se empolgou e foi esticar.
NaTelinha - O que estava acontecendo nesse dia além do Serginho?
Originalmente a Hebe iria no programa dele. No programa de aniversário dele, lá na TV Cultura. E aí a Hebe teve um problema, não conseguiu. E eu, falei com Serginho: 'Vai demorar um pouco pra ela ir aí, você não quer vir aqui?'. Que ele queria entrevistar, e aí a gente combinou, e eu combinei direto com o Serginho, e aí ele falou: 'Mas como é que vai ser?'. Eu falei: 'Chega uma hora que você vai fazer o que você ia fazer no teu programa, você faz com ela aqui'. E a gente fez uma metalinguagem, a gente fez um programa, a gente fez o programa dele dentro do programa da Hebe.
Ele foi pra plateia e começou a entrevistar as pessoas, a gente levou uma plateia bem jovem, assim, estudantes e tal. E aí eles começaram a fazer umas perguntas que a Hebe nunca tinha respondido pra ninguém, aí começou... A audiência começou a subir.
NaTelinha - Eu acho que esse programa tem no YouTube, né?
Não sei. Eu não gosto de ver muita coisa que eu já fiz, não.
NaTelinha - Você não gosta? Por quê?
Não, porque me dá desespero. Eu não tenho esse hábito de ficar vendo coisa que eu já fiz há um tempo. Ao não ser quando é um pedacinho, um clipe, outro dia o Serginho veio no programa e falou: 'Ah, você fez um clipe comigo e tal'. Aí eu vi o clipe. Mas assim, não vejo porque me dá aflição, porque eu fico vendo só defeito. Então eu sofro com isso. 'Por que eu não voltei para cá? Por que eu não fiz isso?'.
NaTelinha - Meu Deus, então você deixa de ver muita coisa boa que você fez por causa dessa sua aflição.
Coisa ruim também, né?
NaTelinha - O que tão ruim que você possa ter feito? (risos)
Não gosto de ver porque me dá aflição. 'Por que eu não fiz desse jeito?', 'por que eu não fiz isso?'. Eu só consigo ver defeito.
NaTelinha - Até hoje mesmo, se você pegar o programa do Silvio Santos do ano ado... Você vai começar a achar um monte de defeito?
Muito defeito, muito erro.
NaTelinha - O que mais te irrita e que fica achando defeito? Tem alguma coisa assim?
Quando o programa é gravado, é uma coisa porque você ainda tem edição. No ao vivo não tem jeito. Foi? Foi. Não lamento muita coisa ao vivo, porque o ao vivo você entende. Difícil explicar isso, mas é o que eu tiraria, não faria, e que eu faria melhor, entende? No corte, na direção de imagem, às vezes quando o programa é editado na sonorização, esse tipo de coisa.
NaTelinha - Nos anos 2000, isso já faz algum tempo, tem um outro recorte da sua carreira que eu queria relembrar, que você foi diretor artístico da Record, de uma Record que estava no auge. Muita gente talvez nem saiba, essa geração que está crescendo agora, mas quem é um pouco mais velho vai lembrar que a Record tinha aquele slogan de rumo à liderança. Acabou não se concretizando, mas quando você foi para lá, isso era um mantra, eu acho, ali da Record. Você realmente foi contratado para tirar o primeiro lugar da Globo? Ela acreditava que seria primeiro lugar ou era uma frase de impacto?
Eu estava na Band e aí o Luciano Callegari com quem eu já tinha trabalhado há muitos anos no SBT, foi para Record. Ele montou um time com Walter Zagari na superintendência comercial que também já tinha trabalhado no SBT.
A princípio eu fui lá pra ser diretor de programação. Era diretor de programação e a Record tinha uma meta lá importante que era expandir a Record Internacional. O primeiro ano que eu trabalhei lá na Record, nessa ida, acho que foi 2001, se não me engano, eu trabalhei, viajei muito, era uma expansão da Record Internacional. Toda a programação, toda a gente fazia três, quatro feeds diferentes de programação, uma para cada lugar, horário, foi um trabalho doido ali. Quando a Record Internacional decolou, aí o Luciano... A gente começou a produzir coisas na Record e essa frase veio... Acho que foi o Walter que falou 'à caminho da liderança'. A princípio foi um slogan comercial
Quando você está fora da Globo é diferente. Qual é a meta? Você quer ganhar do primeiro lugar. O discurso ali, da minha parte como diretor de programação e artístico depois junto... Não é que eu quero ganhar da Globo. Eu quero chegar no primeiro lugar. E quem estava em primeiro lugar era a Globo. Então, se fosse a RedeTV! ou se fosse o SBT, a gente queria ganhar. Então, essa história aí ganhou muito corpo E isso aí acabou ganhando uma dimensão um pouco maior.
Mas o sonho de ganhar da Globo sempre existiu. Acho que existe até hoje.
NaTelinha - Será que existe até hoje?
Acho que existe. Quem não tiver esse sonho é melhor desistir e você não acredita que nunca vai ganhar? É difícil. Tem que tentar. Todos os lugares que eu trabalhei antes de trabalhar na Globo, era ganhar da Globo. Não ganhar da Globo... Era chegar em primeiro lugar. Ser primeiro. Quando estreava um programa, quanto você gostaria que desse no Ibope? 100! Eu gostaria que desse 100, mas é impossível. O problema não é pensar grande e não conseguir. O problema é pensar pequeno e conseguir.
Chegou um ano lá que lançamos 16 programas, fizemos muitas novelas, jornalismo... Fiz muita coisa lá.
NaTelinha - Por mais que vocês fizessem e investissem, a Record ainda ficou muito longe. Bateu uma espécie de frustração? Mesmo no limite ainda da capacidade, ainda ficou longe. Tinha essa conversa ou não?
Estou falando por mim, não tô falando das pessoas que trabalhavam lá, essa frustração não pode existir. Ganhar da Globo não é fácil. Então, quando a fez coisas lá e os resultados foram aparecendo. Acho que o grande marco da Record, o grande momento ali foi quando ela, a gente ali, estabeleceu e a gente tirou o segundo lugar do SBT que estava lá desde que inaugurou. O SBT nasceu segundo lugar. A gente primeiro começou manhã, tarde, noite... Essa sim foi uma vitória.
De manhã a gente bagunçou a programação da Globo. Fala Brasil, depois Hoje em Dia, a Globo teve que mexer na programação porque começou a perder. Enfim, mas não é frustração, é motivação.
NaTelinha - E o Hoje em Dia está no ar até hoje, né?
Tá, tá. Uma das coisas que eu fiz o que eu tenho mais prazer assim de lembrar que foi o Hoje em Dia. Tinha vontade de fazer um Morning Show nos moldes americanos. Eu gostava muito. Trabalhei três anos nos Estados Unidos, em Nova Iorque, pelo SBT. Aprendi muito sobre aquele programa. Era um recorde de longevidade, faturamento. Eu estudei aquilo lá. Não foi jogado.
NaTelinha - E como chegou no nome de quem apresentaria?
Não, a gente tinha dois nomes. O primeiro nome era o Rodolfo Gamberini. Era a primeira opção ali. Ele estava fazendo, acho que um jornal lá. E depois a Ana entrou depois. Eu não lembro exatamente, mas assim, eu lembro que uma semana antes o Gamberini desistiu, assim, não acertou, não teve a negociação lá, o contrato não deu certo. Aí a gente realmente correu atrás e o Douglas [Tavolaro], que era o diretor de jornalismo, na época, ele falou o nome do Britto. 'Ah, o Brito, acho que vai sair da Globo, o que vocês acham?' Aí a gente falou, conversou com ele e a gente começou o Britto, a Ana Hickman e o Edu Guedes.
NaTelinha - O Vildomar começou?
Não, não. O Vildomar entrou bem depois. O primeiro diretor que dirigiu o programa foi o Vanderlei. Eu tinha um diretor de criação lá, que era o Deto. Eu e o Deto criamos o programa. E aí, o Vanderlei dirigiu os dois primeiros anos e aí depois o Vanderlei foi fazer outra coisa e a gente colocou o Vildomar para ele dirigir o programa lá.
NaTelinha - Aí depois você voltou pra Band. E o que a Band almejava ali quando te contratou? O que ela aspirava?
A Band sempre teve uma vocação mais para o jornalismo. O Johnny, na época, queria fazer esse híbrido que eu acabei fazendo lá na Record de manhã e à tarde. Acabou meio nessa linha. Tentou lá fazer algumas coisas também na linha de show, alguns outros formatos, mas enfim, cada um com as suas vocações, orçamento... Mas foi legal lá, fiz bastante coisa lá também.
NaTelinha - Teve alguma coisa que você não conseguiu colocar em prática, seja porque o orçamento não deixava, porque impediram, alguma coisa que você tentava? Você tentou fazer alguma coisa muito legal que você achou que daria certo e por alguma razão isso acabou não acontecendo? Não por culpa sua, mas pelas limitações.
A Band tem uma entrega ali de comercial bem diferenciada das outras redes. Então, tinha um trabalho ali também de manutenção do que já estava sendo produzido, do que já estava sendo feito. Então, esse trabalho gastava uma boa parte do meu tempo entregando coisas. Mas a gente fez umas coisas assim, abri muito ali para a produção independente... Tinha o CQC, O Mundo Segundo os Brasileiros, É Tudo Improviso, Busão do Brasil... Fiz um programa interessante com o Marcelo Rezende chamado Tribunal na TV. Eu adorava esse programa. Era bem doido, mas eu adorava. Mas não quero ver de novo. (risos)
NaTelinha - Ah, você não quer ver de novo?
Não, não, não. Mas eu adorava ele.
NaTelinha - E o Busão do Brasil, que é um dos realities mais injustiçados da história da televisão brasileira? Tem algum bastidor interessante desse programa? Nem sei se ele tá disponível no YouTube, porque, cara, aquilo lá é muito bom, eu não sei como é que não deu certo.
Era bom, a ideia é boa. Às vezes você faz a ideia, mas não rola, né? E o que eu gostava muito de fazer, mas também esse era um pouco mais sofisticado, era o É Tudo Improviso, que acabou depois virando uma moda. Vi numa feira de humor lá em Curitiba e quis tentar fazer na TV.
NaTelinha - Aí depois você voltou pra Globo imediatamente depois da Band, né? Foi aí por volta do fim de 2011. Dizem, se você pegar as matérias da época, que o Faustão estava em baixa, que ele voltou a concorrer com o Gugu, que já tava na Record, né? Como você encontrou o programa e o que você fez? Não sei se a palavra certa é "fragilizado"...
O programa não estava fragilizado, ele tinha uma audiência muito consistente e boa, mas na época, o Gugu tinha um programa na Record, né? Quando acabava o futebol na Globo e começava o programa do Fausto, tinha uma transição difícil lá. Aquela primeira meia hora, aqueles primeiros 40 minutos ali. Acho que essa foi a parte mais difícil ali. Mas a gente encontrou um caminho ali, a gente inverteu, acabou invertendo alguns quadros para começar o programa colado no futebol e reverteu rapidinho ali.
NaTelinha - Então a estratégia foi só reorganizar os quadros?
Eu lembro que a gente começou a abrir o programa com umas atrações internacionais bem malucas. O Faustão saía do futebol e já chamava uma história: 'O cara que vai mergulhar numa piscina de 30 centímetros'. Era uma atração bem doida. E aquilo tinha uma ligação forte com o futebol. O pessoal arrastava a audiência. E naquela primeira hora, meia hora, só pegava aquela transição do futebol para o programa do auditório, mas com aquilo lá a gente reverteu muito rápido.
Eu também comprei um formato numa feira que eram crianças desafiando adultos em algumas modalidades. E também ajudou. Acho que era Desafiando a Fera.
NaTelinha - E dizem que o Fausto, a gente estava falando de futebol, que depois a audiência migrava um pouco para o Gugu, mas dizem que o Fausto não gostava daquela primeira parte do programa antes do futebol, é verdade isso ou é lenda?
Eu peguei pouco ali, acabou aquela primeira parte, acho que foram seis meses, chegou, acho que não deixou, não durou um ano ali. É porque a gente fazia as duas partes ao vivo. Então era ruim no sentido assim de você começa, esquenta, aí faz uma hora e pouco de programa e para duas horas. Acho que era essa era a maior dificuldade. Acho que foi uma decisão da Programação.
NaTelinha - O Faustão mudava até de roupa.
A gente gravava aquela primeira parte. Às vezes a gente gravava. Poucas vezes, mas às vezes tinha que gravar.
NaTelinha - Recentemente, essa primeira parte acabou voltando, né? Agora com o Huck. Isso foi um pedido da Globo? Como é que foi ampliar?
A programação que pediu pra fazer um conceito do Domingão ser todo a programação do domingo à tarde ser Domingão. É mais conceitual aí de programação do que artístico.
NaTelinha - A primeira parte é um horário bem diferente da segunda. Como vocês pensam no conteúdo naquela faixa? Como é que é esse cuidado? Tem um raciocínio ali, né?
Tem a concorrência ali naquele primeiro horário. É dura, é difícil. O SBT ali está muito bem enraizado ali, muitos anos. Começa mais cedo. O programa do Celso ali vem embalado e tal. Então, quando a gente entra, a gente pega de um filme. Aí tem toda uma ciência de comportamento da audiência. Mas tem que procurar entender cada vez mais o comportamento do público nesse horário ainda. Porque, embora seja o mesmo, o comportamento é diferente.
NaTelinha - Isso vocês vão estudando, semanalmente vocês vão estudando o que o próximo domingo 'a gente vai pegar do filme X, porque às vezes é uma animação, às vezes é um filme de ação'...
Domingo não tem jogo ganho, cada domingo é uma final. Final não tem ganhador, tem campeão. Então cada domingo é uma final de campeonato. Pode ganhar, pode perder.
NaTelinha - Apesar do programa estar gravado, você fica acompanhando o minuto a minuto do Ibope? O quanto isso mexe com você?
Não, não, isso não mexe porque faz parte do trabalho, né?
NaTelinha - E sua relação com o Luciano? Vocês se conhecem há muitos anos. Aqui é uma pergunta protocolar. Qual o tamanho dessa sintonia?
Boa, né? Eu já estou com ele desde Caldeirão, mais quatro anos. São 12, 13 anos. Direto quase, né? Cada apresentador e cada diretor, pra tudo vale, pra qualquer profissão, cada pessoa é uma pessoa, né? Cada um, a gente tem que se adaptar como eles têm que se adaptar a gente, também como produtor, como diretor, mas o Luciano é muito determinado.
Diferente do Fausto, diferente do Silvio Santos, mas não é melhor nem pior, é diferente no sentido de característica mesmo. Tem coisas que ele se envolve mais do que um, tem coisas que ele quer ver menos, tem coisas que ele é mais exigente.
NaTelinha - Tem algum quadro que vocês lançaram, no próprio Domingão mesmo, que vocês esperavam uma resposta de audiência maior e acabaram se decepcionando com o retorno?
Você fez essa pergunta para a pessoa errada, porque se eu ponho no ar querendo dar 100, todos os programas que eu faço estão abaixo da minha expectativa. Tem os que dão mais audiência e os que dão menos audiência, que chega a gerar uma frustração... Os game-shows são um terreno difícil de pisar. A gente nunca sabe direito. Depende da capacidade de compreensão das pessoas que estão em casa. Tem que fazer com que as pessoas se conectem. O game-show já errei a mão várias vezes.
É um gênero que ficou fora numa época, a gente quis retomar agora com o Luciano no Caldeirão. Esse daí às vezes frustra. Porque você vê um formato que está fazendo muito sucesso fora do Brasil, faz atrás, faz e não funciona como. Acho que talvez se eu só, voltando a sua pergunta aí desse assunto, acho que os games deixam a gente meio frustrado.
NaTelinha - Às vezes você vê em uma feira de televisão que é sucesso em 85 países. Fenômeno...
E aqui não dá nada.
NaTelinha - O "esqueleto" do Domingão parece ser muito bem definido até sei lá quando. Até quando vocês tem ele planejado? O Domingão não deixa os quadros enjoarem.
Tem que ser, né? Porque tem um planejamento, um desenho de produção, e assim, a cada diretor, cada produção, cada parte da equipe fica dedicada a um determinado quadro, depois sai e entra outro. É um desenho de produção bem complexo. Esse ano, inclusive, a gente mudou, fez uma mudança importante.
Com a entrada do futebol, lá atrás, aquela pergunta que você falou, a gente deixou o Dança dos Famosos, que é o quadro de maior força... Ele é longo, tem 18, 20 episódios vão ser esse ano e ele vai crescendo uma competição até um reality... Como tem um futebol, vamos deixar pro segundo turno. Quando os jogos forem esquentando. A gente mudou. O Dança dos Famosos era primeiro semestre, amos pra concorrer com o segundo turno do Campeonato Brasileiro.
NaTelinha - É que muitos poderiam pensar o contrário, por exemplo, o segundo semestre tem jogos mais decisivos e dizer: 'Não vamos queimar a Dança dos Famosos' e dizer: 'Vamos colocar contra o Campeonato Paulista que é mais fraco'. Não é essa leitura que você faz.
Não, tem que jogar com o melhor que tem. Vai pegar um conteúdo que é uma briga boa, né?
NaTelinha - Qual é a novidade que você pode adiantar, talvez neste segundo semestre de 2025, ou até, quem sabe, no primeiro semestre de 2026 do Domingão? O que é que vem por aí?
O que vem por aí... A gente já estreou quadros novos esse ano, mas para o segundo semestre nós vamos estrear um quadro que ainda não foi produzido em lugar nenhum. É uma brincadeira com humor bem interessante. É um desafio para a plateia. Não vou adiantar muito aqui, mas é uma coisa com humor e é uma batalha entre a plateia e os talentos de humor. É bem interessante.
NaTelinha - Isso é criado aqui no Brasil?
Não, isso é um formato da BBC.
NaTelinha - Ah, é? Olha só, a BBC criou um formato bem brasileiro, então, hein?
É bem legal, só que ele não está ainda [no mundo], ele vai estrear na Inglaterra em setembro. A gente vai estrear quase junto. Não estou com a data aqui, ele já andou duas vezes, mas é no segundo semestre. É um formato novo que a gente tá bem animado.