Memória

A Viagem foi acusada de estimular suicídios e perturbar crianças em Portugal

Assim como no Brasil, a primeira exibição de A Viagem também fez muito sucesso em Portugal, mas a novela de Ivani Ribeiro enfrentou alguns problemas em terras lusitanas


Guilherme Fontes em A Viagem
Guilherme Fontes em A Viagem

Em sua terceira reprise no Vale a Pena Ver de Novo desde o mês ado, A Viagem foi exibida em Portugal alguns meses depois de sua exibição original no Brasil, em 1994. A trama de Ivani Ribeiro fez sucesso em terras lusitanas, mas também gerou algumas polêmicas.

Exibida pelo canal SIC, a novela garantia 20 pontos de audiência diária, gerando uma acirrada disputa com outra produção da Globo, Fera Ferida (1993), que era exibida pela concorrência.

Sucesso

Para se ter uma ideia da repercussão, A Viagem ajudou a capital portuguesa, Lisboa, a sediar, em dezembro daquele ano, um congresso internacional de Espiritismo, onde a obra acabou sendo debatida - o encontro não era realizado desde 1925.

"Estávamos planejando o congresso havia dois anos, muito antes da novela, mas A Viagem foi um ótimo catalisador para a sua realização. Sentimos que os mentores espirituais inspiraram essa iniciativa", declarou o presidente Federação Espírita Portuguesa, João Xavier de Almeida, ao jornal O Globo de 14 de dezembro daquele ano.

"A novela é excelente e está contribuindo para abrir a cabeça dos portugueses. Desperta a atenção e a curiosidade para a doutrina", completou, dizendo que existiam 40 centros espíritas e 50 mil adeptos naquele país.

Problemas

No entanto, a mesma reportagem destacou que a trama estava sendo acusada de supostamente ter influenciado o suicídio de duas adolescentes, internas de um lar de jovens.

Nos recados que deixaram, elas faziam alusão à novela, a uma vingança como a de Alexandre (Guilherme Fontes) e à vida após a morte. "A diretora do estabelecimento afirmou que ambas assistiam à trama televisiva com frequência", informou a matéria.

Os jornais portugueses estamparam com destaque a associação entre a novela e o duplo suicídio das jovens, que viviam desde crianças no internato, longe de suas famílias, mas Xavier disse não crer nessa influência.

"Em Portugal, a doutrina sempre esteve cercada de preconceito durante o salazarismo. A federação foi dissolvida, o Estado se apoderou de seus bens e as reuniões eram clandestinas", informou.

Perturbação

A Viagem foi acusada de estimular suicídios e perturbar crianças em Portugal

Outra reportagem sobre os problemas causados por A Viagem em Portugal foi feita cerca de um mês depois, pela Folha de S.Paulo, que noticiou que a trama estava sendo acusada de perturbar crianças à noite.

A denúncia foi feita pelo psiquiatra infantil Jorge Mira Coelho, do Porto, que disse que os jovens estavam com medo dos fantasmas e do Vale dos Suicidas. "Essas telenovelas cheias de fantasmas perturbam as crianças, e até os adultos ficam com medo", afirmou.

De acordo com o especialista, três crianças entre sete e 11 anos estavam sendo tratadas por conta da novela, com crises de pânico, fobia do escuro e medo de dormir sozinhas.

"Ficam ando essas xaropadas dos espíritos, e os adultos não veem juntos para explicar o que é real e o que não é", explicou.

Coelho também destacou que as crianças dessa idade não tinham capacidade de crítica, só formada entre os 12 e 13 anos. "Para o psiquiatra, só haveria uma solução: tirar as novelas do horário nobre, ando para um período em que só os adultos assistissem", enfatizou.

O profissional, que trabalhava com psiquiatria infantil há 30 anos, ainda fez uma crítica sobre a influência das novelas. "Há quatro anos, responsabilizou a novela Roque Santeiro por difundir entre as crianças o medo dos lobisomens", conclui a reportagem.

Nas duas matérias, a Globo acabou não se manifestando sobre os temas abordados.

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