Memória

Só mostrou metade: o filme proibido que fez canal nanico explodir no Ibope

Há exatamente 33 anos, em junho de 1992, um canal nanico, que queria se tornar rede nacional, gerou polêmica ao anunciar a exibição de um filme proibido para menores


Cena do filme Calígula
Cena do filme Calígula

Há exatamente 33 anos, o anúncio da exibição de um filme recheado de cenas de sexo explícito e violência deu o que falar e fez um canal nanico conquistar excelente audiência mesmo tendo mostrado apenas um trecho da obra.

Estamos falando do polêmico Calígula, de 1979, produção proibida para menores de 18 anos e, até então, nunca exibida na televisão brasileira.

Barulho

Só mostrou metade: o filme proibido que fez canal nanico explodir no Ibope

O mercado de televisão do Brasil foi movimentado com os planos do empresário e político José Carlos Martinez, que morreu em 2003.

Prometendo investimentos na ordem de 30 milhões de dólares, ele tirou Galvão Bueno da Globo e prometeu transformar a pequena OM, surgida nos anos 1980, no Paraná, numa grande rede nacional. Além do narrador, também foi contratado Guga de Oliveira, irmão de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, para ser o diretor do canal, e adquirido um pacote de filmes famosos.

Entre as produções estava o filme dirigido por Tinto Brass, que gira em torno da ascensão e queda do imperador romano Gaius Caesar Germanicus, mais conhecido como Calígula. A produção de 156 minutos exibia artistas conhecidos, como Malcolm Mcdowell, de Laranja Mecânica, envolvidos em cenas de sexo explícito e violência.

A obra foi fatiada em duas partes e a exibição foi anunciada para o período do feriado de Corpus Christi – dias 18 e 19 de junho, a partir das 23 horas.

Nada feito

Só mostrou metade: o filme proibido que fez canal nanico explodir no Ibope

O primeiro problema surgiu dia 12 de junho. O Ministério Público de Santa Catarina obteve liminar proibindo a exibição do filme pela retransmissora daquele Estado.

Três dias depois, em 15 de junho, todos os membros do Conselho Curador da Fundação Cásper Líbero, que controla a TV Gazeta, então afiliada da rede em São Paulo, se manifestaram contrários à exibição do filme. “Não vi e nem vou ver. Mas meu filho, pensando se tratar de um filme histórico, assistiu no vídeo e me garantiu que há cenas de virar o estômago”, disse José Carlos Graça Wagner, então presidente do conselho, à Folha de S.Paulo.

Guga de Oliveira (foto acima) informou que a emissora iria recorrer e que o Diário Oficial da União teria publicado uma portaria do Ministério da Justiça liberando a exibição do filme depois das 23 horas.

Pela metade

A repercussão em torno do anúncio da exibição gerou grande expectativa entre o público. Contudo, no dia 18 de junho, a emissora desistiu de exibir a produção naquele dia, em respeito ao feriado religioso.

No dia seguinte, a Folha destacou: "Se nenhum fanático provocar um blecaute, se ninguém mover ação na Justiça, se o mundo não terminar em cinzas, a Rede OM Brasil exibe hoje, às 23h, sem cortes, a primeira parte de Calígula. A segunda parte será transmitida amanhã, também às 23h".

Enfim, no dia 19, a primeira parte começou a ser exibida, alcançando 16 pontos no Ibope, uma excelente audiência para os padrões da emissora. Dois dias antes, o canal havia obtido 34 pontos com a exibição exclusiva da final da Libertadores daquele ano.

Mas Graça Wagner conseguiu liminar na Justiça, obrigando a emissora a tirar o filme do ar, também não podendo exibir a segunda parte no dia seguinte. O juiz José Antônio de Almeida Martins, da Justiça Federal de São Paulo, determinou o cancelamento da exibição.

No final das contas, a OM não conseguiu mostrar o filme completo. Em agosto daquele ano, a Folha destacava que a emissora ainda não cumprira a promessa de exibir a fita devido à obstrução judicial.

“O mérito da questão ainda aguarda julgamento. O resultado final era esperado por Guga de Oliveira para a última sexta. Nos últimos dias, a OM vem veiculando uma chamada com imagens do filme e legendas que citam trechos da Constituição referentes à liberdade de expressão. Segundo ele, as chamadas servem para manter viva a polêmica”.

Após se envolver em várias polêmicas, a Rede OM foi extinta em 22 de maio de 1993, dando lugar à CNT, que está no ar até hoje, vendendo 22 horas de sua programação diária para a Igreja Universal do Reino de Deus.

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